DREX

Existe um burburinho no mercado financeiro sobre o que o BACEN vai fazer após o PIX, visto que o PIX, foi e está sendo uma plataforma revolucionária que impulsionou a movimentação do dinheiro de forma simples e prática, possibilitando pagamentos em locais e estabelecimentos dos mais diversos. Graças a esse sucesso o BACEN conseguiu trazer uma nova ideia, alinhada com a visão do CBDC e Web3 para criar uma nova plataforma que possibilitará o surgimento de novos produtos financeiros mais eficazes e mais efetivos.

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Esta plataforma é o DREX, Digital REal X, esse X no final me dá gatilho e me lembra de Eike Batista com aquele livro O X da Questão. Enquanto plataformas de blockchain estão presas no seu formato permissionless e descentralizado, o BACEN esta criando um DREX em uma forma centralizada, isto é, como autoridade central, e permissioned, escolhendo quais empresas vão participar. Basicamente, teremos agora uma blockchain, com contratos inteligentes, sendo utilizado por Itau, Bradesco, BB, Nubank, etc. Tudo isso usando o Hyperledge Fabric suportado pela Linux Foundation.

Enfim, o que parece é que o BACEN está pavimentando o caminho para sua própria CBDC. Mas fora da polêmica que uma CBDC pode causar nos bancos de varejo, com a custódia da moeda no BACEN, quero falar sobre a grande mina de ouro que pode surgir daí, os contratos inteligentes.

Contratos Inteligentes

Ano passado eu havia cantado a bola sobre minhas dúvidas sobre a blockchain aqui, nesse post: blockchain ou governanca descentralizada. Grande parte da comunidade de Web3 estava, na verdade, ainda está, navegando nas águas de governança descentralizada e isto é um desafio imenso. Vitalik, criador do Ethereum, que o diga, com seus inúmeros artigos e ideias sobre governança descentralizada, sendo implementadas e testadas para dar autoridade a quem merece, fazendo tudo isso de forma descentralizada… super legal, mas de um esforço hercúleo.

A verdade é que centralização tem as suas vantagens, principalmente quando você quer oferecer produtos financeiros no varejo, segurança é o ponto de partida. Bitcoin/Ethereum e derivados, com toda sua plataforma descentralizada fornece resiliência, mas falta uma autoridade para dar diretrizes de boas práticas e regular esse produtos ofertados. Hoje a maioria dos DApps, são jogos de azar, ninguém coloca sound money em uma apólice de seguro de uma empresa XYZ no Ethereum.

Problemas antigos, novas soluções

Uma das soluções já apresentadas nos vídeos do DREX, é a compra de um carro de um terceiro pessoa física. Quem já passou por isso sabe dos riscos da transação não ser concluída. Eis uma lista das possíveis etapas a serem enfrentadas:

  1. Procurar o carro em uma plataforma online (OLX, CompreCar, WebMotors, ML, etc…).
  2. Entrar em contato com o anunciante para saber se o veículo está disponível e marcar um local de encontro para ver o carro.
  3. Ver o carro, levar em um mecânico, fazer uma oferta.
  4. Aceitar a oferta, fazer a transferência do valor, preencher o CRV e autenticar no cartório a transferência.

Essa última etapa, é a etapa que todo mundo desconfia de todo mundo, de um lado o comprador: “vou transferir o dinheiro, mas quero a chave do carro com o documento preenchido”, de outro o vendedor: “vou transferir o documento para o seu nome, mas eu quero o dinheiro”.

Este tipo de problema seria resolvido facilmente por smart contract. Cheque caução e afins são coisas do passado em um mundo cada vez mais digital.

Uma solução seria cada um acessar sua conta no DREX (via app terceiro) e assinar um contrato de compra/venda daquele veículo. Assim, o valor só é transferido quando o CRV estiver no nome do comprador. Esse aplicativo terceiro, que provavelmente será um desses superapps de bancos, o qual se comunicaria com o DREX, DETRAN e qualquer outra plataforma online necessária para executar este contrato.

Soluções antigas, mais competição

O exemplo acima, é só um dos inúmeros produtos financeiros que hoje são oferecidos de maneira analógica. Seguros por exemplo, poderia ser escrito como um contrato inteligente, que seria acionado quando certas condições fossem atendidas. Um seguro de carro poderia ser acionado imediatamente após constar um sinistro de uma vistoriadora. Além disso, esse contrato poderia ser negociado e renegociado inúmeras vezes a partir de um token, gerando mais liquidez neste mercado, reduzindo o custo desse seguro e aumentando seu prêmio.

Não sei até onde vai essa plataforma blockchain do BACEN, acho que até eles mesmos não sabem quais os produtos podem surgir daí, quem iria imaginar que o pessoal iria trocar mensagens por PIX de R$ 0,01?

Logística também é um mercado que pode se beneficiar muito disso se souber trabalhar sua supply chain nessa plataforma do BACEN. Fornecedores poderiam confirmar a entrega dos produtos a um cliente e a partir da data de entrega iniciar as cobranças de débitos automático 30/60/90 na conta do varejista por exemplo, e novamente, esse recebíveis poderiam ser negociado no mercado secundário, gerando liquidez e diluindo o risco do fornecedor.

Conclusão

Enfim, muitas soluções são possíveis de se imaginar, ainda falta uma plataforma concreta e funcional que o BACEN junto com seus parceiros estão construindo, mas se eu fosse gestor, não deixaria de ficar de olho nas possíveis maneiras de modernizar o meu negócio utilizando essa plataforma. Como um curioso da Web3, fico bem empolgado de ver soluções vindas da iniciativa pública aqui no Brasil, temos tudo para criarmos o mercado de soluções financeiras digitais aqui e virarmos exportadores de arte, como diria Tom Zé, “o grau mais alto da capacidade humana”. Que povinho audacioso. Que povo civilizado.

Fontes

https://www.bcb.gov.br/estabilidadefinanceira/drex

https://pt.wikipedia.org/wiki/Drex

https://www.youtube.com/watch?v=U4mM6KS1XbA